Restaurante hospitalar
Há um restaurante vegetariano onde vou de vez em quando que me causa um certo desconforto. E no outro dia percebi porquê. Porque tem um ar demasiado asséptico. A senhora que nos atende ao balcão está de bata branca, luvas de látex e touca na cabeça. Até o rapaz da caixa registadora tem bata branca. Toda a gente ali tem bata branca. Aquilo não parece um restaurante, parece um hospital.
E toda aquela brancura faz-me impressão. Sinto que os funcionários tanto podem servir-me um tofu como espetar-me uma injecção de brócolos ou medir-me a tensão vegetal. Só falta um acamado a um canto com soro de chá verde para tornar aquilo mais arrepiante.
É compreensível que queiram dar um ar de comida saudável, mas não exageremos. Se o sabor não prestar, bem podem transformar aquilo num centro de saúde que não adianta. O que vale é que a comida é boa. Até pus uma crítica no Tomates a dizer: “Boa comida em ambiente muito hospitalar.” Claro que veio logo um daqueles nazis da língua armado em esperto: “Não querias dizer ambiente hospitaleiro?” Não, pá, queria mesmo dizer o que disse, porque os funcionários do espaço, além de simpáticos, são de facto muito hospitalares.
É pela simpatia e qualidade que me vou aguentando por lá. Mas por vezes dá-me vontade de sair dali directamente para um restaurante carnivoriano, todo estercoso – com beatas e escarros no chão como as tascas antigas –, que sirva rojões com batido de porco e mousse de chouriça.