Personal Tirano
Por vezes penso que devia contratar um tirano. Um ditador pessoal que me disciplinasse a vida. Alguém que me dissesse: «Vais parar de navegar na Internet e voltar imediatamente ao trabalho!» «Mas, sr. tirano, eu preciso de saber que notícias importantes tem “A Bola” para mim hoje!» «Vais parar e é já!»
Ou quando olho para a minha barriga e constato que devia fazer abdominais, porque ela está rapidamente a transformar-se num pudim. Mas não faço nada, porque não tenho paciência. E para compensar como um chocolate. E eu bem queria não comer chocolates, principalmente depois de jantar. Mas logo a seguir como outro. Enquanto penso: “Com tanto chocolate à venda nos supermercados, se alguém não o comer, ele estraga-se.”
É lastimável, eu sei. Por isso é que acho que um pouco de fascismo podia ajudar-me a organizar a vida. Há quem tenha um personal trainer, eu teria um personal tirano. Sou da opinião que um ditador, tal como a energia atómica, se for bem utilizado, pode trazer excelentes benefícios. Hitler, por exemplo, passou à História como alguém com péssima reputação, quando podia ter sido um óptimo ditador pessoal. A meu ver, o problema dos ditadores é que se têm dedicado demasiado à política e pouco à área da ginástica e do bem-estar.
Se Hitler desistisse dessas parvoíces de invadir a Polónia e enveredasse pela carreira de personal tirano teria certamente excelentes credenciais para mostrar. Já estou a imaginar o seu cartão de apresentação: “Se consegui mobilizar uma nação inteira, imagine o que posso fazer por si. Já trabalhei no Holmes Place das Amoreiras e de Cascais e nas melhores salas de espectáculos de Berlim, sempre com excelentes resultados.”
E para comprovar a competência do ditador teríamos os inevitáveis testemunhos: “O Adolfo é impecável, nunca nos deixa relaxar. Quando começa a perceber que estamos a abrandar o ritmo aponta-nos com aquele cano da pistola que nos faz ir buscar energias onde não julgávamos possível. É um profissional muito qualificado.”
O meu único receio é que o ditador se avarie, porque as pessoas também se avariam, e em vez de dizer “Tens de fazer 50 abdominais!”, me diga coisas como: “Tens de empenhar um anel de rubi para me levares ao concerto que vai haver no Rivoli!” “O quê, tirano? Isso não faz sentido nenhum! Tiraste isso de uma canção, não foi?” “Toca a andar!” E depois ainda dou por mim a fazer estas parvoíces, porque estou nas mãos daquele tirano, que não tem outro nome.
É por essas e por outras que ainda tenho reticências em adquirir os serviços de um ditador. Mas, no seu caso, se é daquelas pessoas que diz “Isto só lá vai com um Salazar!”, não hesite. Chegou finalmente a sua oportunidade. Quem sabe se não existe já uma empresa que venda este tipo de serviços, com um slogan do género: “Precisa de alguém que lhe discipline a vida? Nós levamos a ditadura até si!”
(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/344592_personal-tirano)