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Gonçalves

Conclusões sobre insultos em pavilhões desportivos

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Há uns tempos fui com os meus filhos ver um jogo de basquetebol e outro de andebol, para variar do futebol, e as conclusões a que chego no que toca a insultos aos árbitros em pavilhões são as seguintes:

- Não fazia ideia, mas os insultos aos árbitros parecem muito mais presentes dentro de um pavilhão do que num estádio de futebol cheio de gente. É outra qualidade de som em recinto fechado. Para quem exige qualidade no insulto recomendo desde já pavilhões. E para os árbitros também deve ser uma experiência muito mais enriquecedora, porque, enquanto num grande estádio os palavrões atirados das bancadas se confundem numa amálgama de ruído e chegam ao relvado em péssimo estado, num pavilhão, além de os árbitros usufruírem da boa acústica do espaço, têm o privilégio de estar mesmo em cima dos fãs, ouvindo tudo o que lhes dizem de forma cristalina e quase personalizada. É uma maravilha.

 

- Não há grande novidade em matéria de insultos, pelo menos a avaliar pelos jogos que vi. No geral, só passaram os velhos êxitos da injúria. No jogo de andebol tudo começou com um tímido “cegueta” aqui, um “palhaço” acolá, passando pelo mais zoológico “camelo” ou pelo sempiterno “gatuno”, esse fóssil vivo do insulto, até escalar para os mais escabrosos, e igualmente clássicos, “cabrão” e “filho da puta”. O mais original que ouvi foi uma elaboração do insulto zoológico, talvez a melhor frase da tarde: “Há bocado eras camelo e agora ainda és mais.” Mas mesmo esse pecou por falta de convicção, porque foi dito como quem tira uma pipoca do balde para se ir distraindo. Se calhar porque em tempos foi um grande sucesso do insulto, mas agora já é um êxito requentado.

 

- Homens, mulheres, jovens e velhos, todos insultam. Nesse aspecto é democrático. E dá gosto ver como aos poucos se gera um sentimento de comunidade na bancada, uma camaradagem do insulto, que a todos agrega no bonito acto de lapidação verbal dos árbitros.

 

- O problema dos insultos é que podem tornar-se incómodos, especialmente se tivermos ao nosso lado criancinhas que, apesar de terem o seu arsenal de palavrões, não estão preparadas para aquele festival de asneiredo. A certa altura gera-se uma avalanche de perguntas naqueles pequenos cérebros, como “Papá, aquele senhor disse a palavra p-u-t-a?” ou “Posso chamar nomes àquele senhor muito grande que chamou nomes ao árbitro?”, que são perguntas muito válidas, mas que não me permitem ver o jogo nas melhores condições técnico-tácticas. Como tal, proponho a criação de zonas de insultadores e zonas de não insultadores, para que alguns tenham um local próprio para soltar o seu “camelo” à vontade e para que eu possa ver o jogo sem sentir que estou numa conferência de imprensa da pequenada.

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