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Gonçalves

A churrasqueira lenta

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Conheço uma churrasqueira que tem filas intermináveis à porta. E o incrível é que há outras duas churrasqueiras mesmo ao lado – mesmo, mesmo ao lado –, uma na porta acima e outra na porta abaixo. Mas só a do meio vinga. As outras estão às moscas.

 

O frango da do meio é de facto melhor, mas não é o Santo Graal do churrasco. Por isso pergunto-me se parte do sucesso deles não residirá na lentidão do serviço. Porque isso permite-lhes acumular um mar de clientes rua fora que lhes dá uma aura especial, parecendo que só aquele frango é comestível e o dos outros conduz potencialmente à morte. Eu sei que isto soa a teoria da conspiração, mas acho que esta tem pernas para andar, porque eles conseguiram atingir um verdadeiro profissionalismo lerdo. Vejamos como:

 

O elenco é composto por quatro funcionários. No principal papel temos uma senhora dos seus 60 anos que, apesar de saber que há um ror de gente para atender, fá-lo com todo o tempo do mundo. Corta o frango bem cortadinho e prepara-o com todos os efes-e-erres a ritmo de tartaruga entrevada, enquanto mete conversa com a pessoa que está a atender sobre os filhos, os genros ou os netos do raio que a parta. Depois há dois funcionários que estão de cotovelo na bancada e que vão fazendo umas coisas. Não se sabe bem o quê, umas coisas. Mas estão devidamente fardados de camisa branca e calça cinzenta, como se estivessem preparados para todo o serviço. Acho que o trabalho deles é estar devidamente fardados. E depois temos o escravo que vira os frangos e que realmente trabalha. Mas é a excepção à regra daquela péssima linha de montagem.

 

Eu estava habituado a outras churrasqueiras, cujo funcionamento está nos antípodas desta. Conheço uma que é tão eficaz que mais parece um campo de extermínio de frangos. O cheiro do respectivo Holocausto aviário sente-se a três quilómetros de distância. Eles são tão rápidos que já devem ter “churrascado” pessoas por engano. Aviam clientes às pazadas. Conseguem desbastar uma fila de gente em meia dúzia de minutos. Parece que estão a treinar para as Olimpíadas do Churrasco ou que querem ser contratados pelas melhores churrasqueiras do mundo.

 

Já a supracitada churrasqueira do meio está mais empenhada em bater recordes mundiais de pastelanço. São estratégias tão diferentes que espanta como ambas conseguem ter tanto sucesso. Dava vontade de contratar um antropólogo ou um sociólogo para estudar o comportamento das churrasqueiras.

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