A primeira vez que arranquei um dente – ou melhor, que a minha mãe me arrancou um dente – ele estava preso por um fio. E a minha mãe disse-me: “Chega aqui, vamos tirar esse dente.” Eu fiquei petrificado de medo. Não por causa de todo um imaginário dos dentistas, porque nunca tive esse medo, mas porque achei realmente que, apesar de só estar preso por um fio, aquele fio era sólido. Era tão sólido que só se conseguiria tirar à bruta, talvez até com um alicate, juro que pensei isso; com um puxão que me faria dar um salto de 3 m de dor. E de repente a minha mãe agarrou num bocadinho de papel higiénico, meteu-o com muito jeitinho na boca e já está. Tirou o dente. Não doeu nada. Zero.
Nunca mais me esqueci dessa cena. Ficou para sempre gravado em mim o pânico pré-papel higiénico e o maravilhamento pós-papel higiénico, porque afinal era tão fácil. Ficou-me como uma lição de que a vida nem sempre tem de ser assim tão difícil. Pelo menos para tirar dentes. E que o papel higiénico pode servir para arrancar as coisas mais sólidas deste planeta. Por exemplo, podia deitar-se um edifício abaixo com papel higiénico. Era só uma questão de embrulhá-lo com muito jeitinho e já estava. Para quê aquela coisa bruta dos explosivos? Há uma versatilidade no papel higiénico que está claramente desaproveitada.