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Gonçalves

O filet mignon da parentalidade

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Cada vez gosto mais de ser pai. Porquê? Porque os meus filhos me dão cada vez menos trabalho. Pode dizer-se que o meu amor parental cresce na mesma proporção do meu descanso parental.

 

Ao que me dizem, estou a atravessar o filet mignon da parentalidade. É uma altura que coincide mais ou menos com a escola primária. Nesta fase, as crianças ainda são palermas o suficiente para nos idolatrarem e já não reagem à mera sugestão de vestirem o pijama a espernear e a guinchar como um porco na matança. Já passaram a turbulência trabalhosa e parva dos primeiros anos, repletos de logística e birras, e atingem agora uma etapa aparentemente calma. Da perspectiva do copo meio vazio, não é que as criancinhas tenham atingido a maturidade. Estão simplesmente a estagiar para se tornarem ainda mais parvas. Para atingirem o grau de super-guerreiros da irritação parental. Quando vejo os meus filhos a cogitar imagino-os a desenvolver armas, como quem desenvolve arsenal nuclear, para nos dar cabo da paciência de forma mais refinada daqui a uns anos.

 

Já ouço falar dessa fase ameaçadora que é a adolescência. Dizem-me “aproveita agora!”, como quem nos aconselha a acumular mantimentos e treinar a musculatura, antes de enfrentar o dragão no átrio da montanha. Há mesmo quem diga que já tem filhos de 7 anos numa fase pré-adolescente, com tiques de desprezo filial. Criaturas que batem com portas e mostram uma carranca de boi enfadado. São pais que não tiveram tempo para usufruir de qualquer filet mignon ou sequer de um mísero bife do pojadouro. É tudo nervo na parentalidade.

 

Os mitos e lendas que rodeiam a adolescência são tais que parece que, ao pé dos adolescentes, as crianças de 6 anos são mestres orientais de lucidez e sabedoria. De repente, um simples petiz de 13 anos, frágil e inseguro, já se transformou num ogre borbulhento de 7 metros, que come miolos de pais ao pequeno-almoço.

 

Enquanto os meus filhos não atingem esse patamar mitológico de Adamastores parentais, vou aproveitar para gozar este mar de rosas momentâneo, que comecei a vislumbrar quando o meu filho mais velho tinha 5 anos. Mal podia acreditar, depois de anos de guerrilha constante com aquele minorca endemoninhado, que chegou a ter surtos birrentos em que batia com a cabeça nas paredes, parecia que de repente as FARC, as brigadas assassinas da Colômbia, tinham deposto as armas. Estava mais calmo e até parecia que já ouvia o que eu dizia. E sem eu ter de fazer nada, que é o mais extraordinário. Não foi preciso nenhum acordo de paz, nada. Foi só deixar o tempo passar. Um autêntico milagre. Que todos os conflitos mundiais se resolvessem assim.

 

Quer-me parecer que só aos 5 ou 6 anos é que nos transformamos em pessoas ou em seres minimamente racionais. Até lá os pais estão a criar chimpanzés. Se calhar as crianças já deviam nascer com 6 anos de idade. Porque vinham num formato muito mais amigo do utilizador. Enquanto a ciência não se aperfeiçoa a esse ponto, se puderem adoptem logo uma criança de 6 anos. Eu estou até a pensar montar um negócio de adopção de crianças dessa idade chamado “Crianças chave-na-mão”. Por isso, se estiverem interessados, falem comigo. Até já tenho slogan: “Parentalidade com menos ralação, Crianças chave-na-mão.”

(https://www.publico.pt/2018/03/27/p3/cronica/o-filet-mignon-da-parentalidade-1831730)

Belas passagens da literatura com emojis*

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Crónica publicada originalmente aqui.

Não dá para transpô-la para aqui, porque a bonecada não aparece, por isso terá de ser mesmo através do link indicado acima. Se se derem a esse trabalho, que sinceramente não sei se vale a pena, sugiro que usem os botões "Control" e "+" do teclado, para uma experiência mais ampliada na "Balada da Neve", que acho que funciona melhor. E se leram este parágrafo chato todo, parabéns, até eu já estou farto de escrever isto.

* Chiiiu. Não digam a ninguém, mas no texto original está escrito "emoticons". Parece que o correcto é "emojis". Aparentemente são cenas diferentes e tal. Eu corrigi aqui de forma muito subtil.

Personal Tirano

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Por vezes penso que devia contratar um tirano. Um ditador pessoal que me disciplinasse a vida. Alguém que me dissesse: «Vais parar de navegar na Internet e voltar imediatamente ao trabalho!» «Mas, sr. tirano, eu preciso de saber que notícias importantes tem “A Bola” para mim hoje!» «Vais parar e é já!»

 

Ou quando olho para a minha barriga e constato que devia fazer abdominais, porque ela está rapidamente a transformar-se num pudim. Mas não faço nada, porque não tenho paciência. E para compensar como um chocolate. E eu bem queria não comer chocolates, principalmente depois de jantar. Mas logo a seguir como outro. Enquanto penso: “Com tanto chocolate à venda nos supermercados, se alguém não o comer, ele estraga-se.”

 

É lastimável, eu sei. Por isso é que acho que um pouco de fascismo podia ajudar-me a organizar a vida. Há quem tenha um personal trainer, eu teria um personal tirano. Sou da opinião que um ditador, tal como a energia atómica, se for bem utilizado, pode trazer excelentes benefícios. Hitler, por exemplo, passou à História como alguém com péssima reputação, quando podia ter sido um óptimo ditador pessoal. A meu ver, o problema dos ditadores é que se têm dedicado demasiado à política e pouco à área da ginástica e do bem-estar.

 

Se Hitler desistisse dessas parvoíces de invadir a Polónia e enveredasse pela carreira de personal tirano teria certamente excelentes credenciais para mostrar. Já estou a imaginar o seu cartão de apresentação: “Se consegui mobilizar uma nação inteira, imagine o que posso fazer por si. Já trabalhei no Holmes Place das Amoreiras e de Cascais e nas melhores salas de espectáculos de Berlim, sempre com excelentes resultados.”

 

E para comprovar a competência do ditador teríamos os inevitáveis testemunhos: “O Adolfo é impecável, nunca nos deixa relaxar. Quando começa a perceber que estamos a abrandar o ritmo aponta-nos com aquele cano da pistola que nos faz ir buscar energias onde não julgávamos possível. É um profissional muito qualificado.”

 

O meu único receio é que o ditador se avarie, porque as pessoas também se avariam, e em vez de dizer “Tens de fazer 50 abdominais!”, me diga coisas como: “Tens de empenhar um anel de rubi para me levares ao concerto que vai haver no Rivoli!” “O quê, tirano? Isso não faz sentido nenhum! Tiraste isso de uma canção, não foi?” “Toca a andar!” E depois ainda dou por mim a fazer estas parvoíces, porque estou nas mãos daquele tirano, que não tem outro nome.

 

É por essas e por outras que ainda tenho reticências em adquirir os serviços de um ditador. Mas, no seu caso, se é daquelas pessoas que diz “Isto só lá vai com um Salazar!”, não hesite. Chegou finalmente a sua oportunidade. Quem sabe se não existe já uma empresa que venda este tipo de serviços, com um slogan do género: “Precisa de alguém que lhe discipline a vida? Nós levamos a ditadura até si!”

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/344592_personal-tirano)

A sesta, esse fenómeno de vanguarda

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A sesta está na moda. Que o digam a Google, a Apple e outras empresas armadas em sofisticadas, que arranjaram cápsulas-cama para os funcionários dormitarem. Mas não só. Já várias empresas perceberam no mundo – mesmo em países sem grande tradição de sesta – que a bem da exploração da classe operária há que pôr os trabalhadores a dormir.

 

Não é difícil perceber porquê, a sesta tem algo de poderoso, de mágico. Só quem nunca dormiu uma bela soneca é que não percebe. É daqueles fenómenos que ainda provoca o meu mais sincero embasbacamento. Porque mesmo uma pequena cochiladela é capaz de refrescar a mente e o corpo de forma milagrosa. Quase como carregar no botão “refresh”. Numa escala mais reduzida, é uma espécie de poção de Astérix, porque se fica de repente com uma energia que não se sabe de onde vem.

 

Está provado e mais que provado que mesmo 5 minutos de sesta podem fazer maravilhas por uma pessoa. Por investigações de universidades conhecidas e menos conhecidas. Ou até da NASA. E ninguém se atreve a questionar a NASA, porque isto é gente que atira com pessoas para o espaço e elas regressam – pelo menos na maioria dos casos. Aliás, o slogan deles devia ser: “NASA, somos um excelente bumerangue de pessoas.” Conclui-se que a sesta aumenta a capacidade de aprendizagem, a criatividade, a produtividade ou mesmo a capacidade de ir à discoteca.

 

Não percebo porque é que em Portugal, país com tradição neste departamento, ainda se olha com desdém ou condescendência para esta prática. Eu já por várias vezes sofri violentos ataques de soneira em pleno dia e se não fosse a sesta não teria sobrevivido. Há alturas em que não tenho outra solução, senão accionar a soneca de emergência. Seja na estrada, no trabalho ou no cinema. Neste último caso, ferrar no sono uns minutos é a única alternativa a ver um filme inteiro em regime de zombie, num misto de vultos e ecos assustadores, como se estivesse com alucinações.

 

E se fazer uma pausa na estrada é compreendido e mais do que recomendado, no trabalho isso ainda não acontece. Porquê? Cabecear ao volante é perigoso, mas cabecear no local de trabalho não é menos. Além dos acidentes laborais, podem ocorrer graves desastres de produtividade. De que é que os sindicatos estão à espera para defender este direito do trabalhador? E os patrões para implementá-lo? Já vai sendo hora de ouvir nas notícias: “A CGTP e a UGT reuniram-se esta tarde com as confederações patronais para acertar os termos de uma sestinha de 10 minutos.”

 

Urge abraçar de vez este hábito em Portugal. A cafeína está sobrevalorizada na nossa sociedade. O problema é que dormir não parece ter muito glamour. Se calhar, para algumas pessoas, devia-se vender a ideia da sesta como um estimulante ou mesmo uma droga. E talvez assim as pessoas “dessem” mais na sesta. “Vou só ali dar na sesta. Não digas a ninguém.” “E se te apanham?” “Eu sei, mas ouve, isto dá-te uma pica...” Não se pode é abusar, como é natural, deste tipo de coisas ilícitas, porque pode dar ressaca. Não ultrapasse a meia hora de consumo, a não ser que seja um profissional experimentado da soneca ou tenha um lado suicida.

 

Não sei se a culpa do actual descrédito da sesta é da Revolução Industrial ou da fábula da Lebre e da Tartaruga, em que a primeira se trama por bater uma sorna. Pouco importa. O que importa é que não pode continuar assim. Caros patrões, cépticos e detractores da sesta em geral, se é o capitalismo de vanguarda ou a NASA que vos convence, não sei. Mas espero que algo vos convença. Porque quando a NASA e os alentejanos estão de acordo é sinal que algo de importante se passa. Se calhar até deviam emitir um comunicado conjunto – “Comunicado da NASA e dos alentejanos: Pessoas, durmam a sesta. Desde que não se ultrapassem os 20 minutos, meia hora, está tudo bem. Diz que até pode trazer vantagens nos negócios e nas idas à discoteca.”

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/343569_a-sesta-esse-fenomeno-de-vanguarda)

A Lista Vermelha das palavras em vias de extinção

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Preocupa-me o desaparecimento de certas palavras. A palavra “labrosta”, por exemplo, vocábulo tão salutar com que a minha mãe chegou a brindar as minhas maneiras à mesa (“És um labrosta!”), sinónimo de pessoa “labrega”, “grosseira”, “rústica”, “campónia” ou “camponesa”, e que raramente se ouve.

 

Proponho que se soltem palavras desusadas por aí, como quem solta animais de cativeiro na natureza, para ver se pegam. Porque é que em vez de uma “sopa camponesa” não podemos ter um “creme de labrosta”? Até soa a coisa de prestígio.

 

Há palavras que se encontram numa situação crítica. Algumas só sobrevivem graças a provérbios ou expressões idiomáticas, que funcionam como última reserva, santuário, onde essas palavras ainda encontram espaço para respirar. Palavras como “albardar” ou “bugalho” estão confinadas a ditados populares como “Albarda-se o burro à vontade do dono” ou “Confundir alhos com bugalhos”. Há que reavivar estas palavras. Nem que seja nos contextos mais improváveis. Se um dos significados de “bugalho” é “conta grande do rosário”, o senhor padre que diga a meio do terço: “Irmãos, vamos agora rezar o bugalho.”

 

Felizmente que ainda ninguém se lembrou de actualizar os provérbios, porque senão seria uma desgraça. Lá se ia um magote de palavras. Além disso, era ridículo. O que é que íamos dizer, “Atafulha-se o porta-bagagens à vontade do dono”? Era uma hecatombe. Não só para as palavras e para os provérbios, como para todo um imaginário antigo, muitas vezes rural, que assim seria varrido da nossa memória. É urgente incentivar a utilização de provérbios e nunca pensar em actualizá-los para coisa palermas como: “Os cães ladram e a autocaravana passa”, “Em casa de informático, Windows XP” (do original “Em casa de ferreiro, espeto de pau”) ou “Ainda a fila vai no Viaduto Duarte Pacheco”, com a respectiva versão para o Norte, “Ainda a fila vai no Nó de Francos” (do original “Ainda a procissão vai no adro”).

 

Talvez devêssemos publicar a Lista Vermelha das Palavras, tal como a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) faz com as espécies de animais, plantas e fungos. Classifiquem-se as palavras por ordem decrescente de ameaça de extinção, como “Em Perigo Crítico”, “Em Perigo” ou “Em Cadilhos”, no caso das mais periclitantes. Refira-se, a título de curiosidade, que a antiga designação da categoria “Em Cadilhos” era “Vulnerável”. Mas alterou-se por uma questão de rigor científico, como é, aliás, fácil de comprovar pela frase exemplificativa: “É fundamental proteger o tigre-de-sumatra, por ser uma espécie em perigo crítico, mas também é preciso atenção ao tubarão-branco, que está em cadilhos.”

 

Assim, com base numa análise empírica rigorosa, que respeita os critérios que me deram na real gana, eis alguns exemplos de palavras ameaçadas das várias categorias:

 

Em Perigo Crítico – Labrosta, alvíssaras, tropa-fandanga

Em Perigo – Calhordas, bambúrrio, abrenúncio, escanifobético

Em Cadilhos – Serigaita, sorrelfa, estroina, pilantra

 

Também pude atestar a raridade de alguns termos pelo corrector ortográfico do processador de texto, que não identifica palavras como “tropa-fandanga”. Sugere-me “contrapropaganda” em troca, porque deve gostar da sonoridade, acha que é parecido. “Ai eles fizeram propaganda? Então nós vamos fazer tropa-fandanga!”

 

Para que se perceba a gravidade da situação de algumas palavras, termino com uma citação de um artigo, originalmente sobre biodiversidade, com uma ligeira modificação da minha parte:

 

«Recentes estudos revelam surpreendentes taxas de declínio ou quase extinção de insultos como “calhordas”, “labrosta” ou “safardana” e confirmam a importância deste tipo de injúrias para as populações. Além disso, e de forma mais ampla, estes estudos demonstram que, se não formos capazes de acabar ou reverter o ritmo da perda de “calhordas”, por exemplo, isso poderá ter consequências dramáticas para os ecossistemas linguísticos ou, pior ainda, poderá significar a opção por insultos desprovidos de interesse.»

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/344104_a-lista-vermelha-das-palavras-em-vias-de-extincao)

Os meus oito mandamentos para os empregados de pastelaria

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Em vez de fazer resoluções de ano novo para mim, decidi fazer para os empregados de pastelaria, sob a forma de mandamentos. Ei-los:

 

- NÃO PORÁS MANTEIGA NA SANDES MISTA.

Eu sou solidário com a utilização da manteiga, porque também sou um adepto da mesma. Mas se calhar não é preciso besuntar tudo com manteiga. Há que traçar o limite algures. A febre da manteiga é tal que já houve sítios onde tive de dizer: “Queria uma salada de frutas sem manteiga, se faz favor.” Aposto que em todas as pastelarias existe uma pessoa só para barrar manteiga.

 

- NÃO ME FERVERÁS O GALÃO AO PONTO DE NÃO CONSEGUIR TOCAR NO COPO.

Para mim pedir um galão não é uma busca de aventura; não é um teste de resistência ao calor. Quando entro na pastelaria não estou à espera de perder falanges ou ficar sem metade do lábio, como quem escala o Evereste. Dá vontade de dizer ao empregado: “Olhe, faça-me o seguinte, este fica já reservado para amanhã; fica a arrefecer. E agora faça-me outro que seja compatível com seres humanos.”

 

A grande paixão platónica da minha vida foi um galão. Recordo-me como se fosse hoje: Eu fervia de desejo pelo galão, ele simplesmente fervia, mas não nos podíamos tocar. Foi doloroso. Nunca mais soube nada dele. Despedimo-nos sem qualquer contacto.

 

- QUANDO PEDIR UMA PASTILHA GORILA OU UMAS PINTAROLAS NÃO ME OBRIGARÁS A REPETI-LO EM VOZ ALTA.

Sou um indivíduo trintão, já com sinais de clara decadência, e ter de repetir em voz alta que quero uma pastilha Gorila provoca-me constrangimento. Se me obrigarem a isso acabo por pedir umas Trident, que têm um ar mais adulto, e lá se vai todo o sonho infantil que alimentei até chegar ao balcão.

 

- NUNCA FARÁS SANDES DE FIAMBRE COM FATIAS DE 2 METROS DE ESPESSURA, que mais parece que estou a comer naco de porco no pão. Até pode ser fiambre da perna extra, que a finesse fica toda diluída na espessura.

 

A propósito de “perna extra”, gosto da forma como continuam a utilizar este adjectivo no fiambre, fomentando todo um imaginário de porcos com cinco pernas. Era interessante que existissem mesmo porcos mutantes em abundância. O que significava que ser suinicultor era como jogar na raspadinha, com um pouco de sorte, saía um porco premiado: “Olha, este aqui também tem uma perna extra!” “Que sorte! Já vais ter fiambre de qualidade!”

 

- NÃO ME CORTARÁS O BOLO OU A SANDES AO MEIO SEM EU PEDIR.

Detesto que me façam isso. Especialmente se for para comer pelo caminho. Às vezes gostava de ter um braço extra, nem que fosse de porco, para poder segurar na bebida e em duas metades de pão ao mesmo tempo, mas não fui bafejado com essa sorte. E se me fartasse do braço podia sempre dá-lo a alguém, a um maneta, por exemplo: “Toma lá um braço. Sei que precisas.” “Não, deixa estar.” “A sério, fica com ele! É de porco, mas é de boa vontade!”

               

- NÃO MATARÁS.

É sempre bom incluir este. Nunca se sabe a reacção se pagarmos o café com 20 euros.

 

- NÃO ME DARÁS UM GALÃO NORMAL QUANDO PEDIR UM GALÃO CLARO.

Quando eu peço um galão claro, por mais mariquinhas que seja, é um galão claro, não é um galão de plena pujança. Aliás, um galão claro já é um abuso. Já sou eu a facilitar. Porque a cafeína provoca reacções de tal forma instantâneas em mim, que o mais correcto seria pedir um galão com três gotas de café medidas com uma pipeta.

 

- NÃO PORÁS O TROCO NO BALCÃO SE EU ESTENDER A MÃO PARA O RECEBER.

É a mesma coisa que um padre ver a mão do crente estendida e decidir enfiar-lhe a hóstia na boca sem dizer água vai. “Ah queres na mão? Então toma lá os sacramentos na boca!”

 

 

É incrível, mas esta coisa de começar as frases por “Não” ou “Nunca” e usar os verbos no futuro do indicativo dá mesmo solenidade às frases. Deve ser por soar tão estranho. Se calhar é esse o truque. Acho que vou passar a falar assim com os meus filhos: “Não cobiçarás o Gormiti do próximo! Nem me deitarás o telemóvel na sanita, rai's parta! Ouviste? Senão irás já para a caminha!”

(http://lifestyle.publico.pt/pontalingua/343146_os-meus-oito-mandamentos-para-os-empregados-de-pastelaria)

Do escritório para o convento

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Há cada vez menos pessoas a trabalhar no escritório da empresa e cada vez mais a trabalhar em casa. Pelo menos é o que rezam os dados. Há previsões que apontam para que nos EUA, por exemplo, os trabalhadores independentes venham a representar cerca de 40% da força de trabalho em 2020. E eu, como não quero chatices com as previsões, já sou daqueles que trabalham a partir de casa. Coisa que aprecio, mas que admito que tenha as suas desvantagens, como a falta de contacto humano ao fim de algum tempo.

 

Percebo que estou há muito tempo sem ver pessoas quando me ligam às seis da tarde e me perguntam: “Peço desculpa, estava a dormir?” Porque a voz me sai de tal maneira rouca e cavernosa que as pessoas nem hesitam na pergunta. Geralmente respondo com um simples “Não, não estava.” Mas a resposta certa seria: “Peço desculpa, mas é que estou há tantas horas sem contacto humano que tive de usar um grampo para descolar os lábios! Mais cerrada que a minha boca só a gruta do Ali Babá!”

 

Mas sinto que estou realmente a raiar o anti-social quando dou por mim a falar sozinho na rua com alguma frequência. Sou um adepto do solilóquio, ajuda-me a organizar os pensamentos. Aliás, não percebo tanto preconceito contra quem fala sozinho. Parece que é mais bem aceite cuspir para o chão em público do que falar sozinho. Pelo menos vejo mais gente a cuspir para o chão do que a falar sozinha na rua. E verifico que quando alguém manda uma daquelas cuspidelas devidamente sonorizadas de meter medo ao susto, ninguém liga nenhuma, mas se formos apanhados a falar sozinhos na rua lançam-nos um olhar esbugalhado, como quem diz: “Atenção: Louco às duas horas!” No entanto, quando os solilóquios de rua ultrapassam uma determinada frequência, sei que é hora de combinar um almoço ou de ter qualquer tipo de contacto com seres humanos, que não apenas a minha família.

 

É incrível como se podem rapidamente perder aptidões sociais. Quando damos por nós estamos transformados em eremitas urbanos. Não há muito tempo estava a partilhar um espaço de trabalho com amigos e passados uns meses de bem-bom caseiro estou cheio de ferrugem social. Partilhar um apartamento com amigos é talvez a melhor forma de trabalhar. O único problema é que dada a instabilidade do emprego hoje em dia, o corrupio de amigos que dão lugar a amigos, conhecidos ou perfeitos estranhos é tal, que num momento podemos estar rodeados de amigos e no outro de traficantes de droga ou de web designers. Nunca se sabe. Ou então, dada a volatilidade da vida de trabalhador independente, esfuma-se toda a gente e lá se vai o arranjinho. Há vários químicos ilustres que consideram a vida de trabalhador independente mais volátil que o éter.

 

Para colmatar a ausência de pessoas também posso ir trabalhar para o café ou para a biblioteca. Mas o índice de interacção na biblioteca, por exemplo, é muito fraco. É pior do que ter um animal de estimação, porque não dá sequer para fazer festinhas ou atirar um osso às pessoas. “Larga lá o computador, anda! Apanha o osso! Grrrr!” As pessoas da biblioteca nem sequer ronronam. É uma miséria! Não fazem grande companhia.

 

Desde há uns tempos também existe a modalidade de coworking. Mas a palavra faz lembrar vacas. Por isso, quando me perguntam se quero aderir ao coworking fico sempre na dúvida. Contudo, o coworking talvez seja o local ideal para reunir os vários eremitas urbanos. Porque permite que cada um professe o seu mister com algum recato, ao mesmo tempo que possibilita uma certa partilha comunitária, às refeições e não só. No fundo, é como um convento, em que cada monge tem a sua cela, mas também a sua vivência em comunidade. Só que os novos monges dedicam-se ao web design e a outras cenas maradas, em vez de se dedicarem à cena do Jesus e do Deus.

 

Se calhar também se podia fazer bolos e entoar cânticos nos coworks. Faziam-se os chamados doces coworkuais. Os pastéis do cowork ou as barrigas-de-coworker. Uma das vantagens destes novos conventos é que em princípio as pessoas não vão para lá obrigadas. Acho que ninguém é posto num cowork à força. “Portaste-te mal, desgraçaste a família, vais para o cowork de Elvas!” “Não, papá! Tudo menos o cowork de Elvas! Não tem sequer wireless!” “Pois não! Nem máquina do café! Por isso é que vais para lá!”

 

Se esta tendência crescente do coworking continuar, como parece estar a acontecer por todo o mundo, tudo se encaminha para um estilo de vida mais medieval. Seremos uma grande comunidade de monges a recibo verde. E à semelhança dos franciscanos, dominicanos ou beneditinos, serão fundadas várias ordens, a ordem dos arquitectianos (não confundir com a Ordem dos Arquitectos, que não tem carácter religioso), a ordem dos webdesignerianos ou mesmo a dos traficantinos, consoante as especializações de cada espaço. Haverá certamente lugar para uma ordem de pés descalços, tendo em conta as provações a que estão sujeitas as gentes a recibo verde. Ou então não haverá ordens nenhumas e será tudo ao molho e fé em Deus, o que para muita gente será excelente, desde que se possa cantar e comer barrigas-de-coworker.

 

Pode ser que entremos numa nova era tecnológico-medieval. Eu ainda não decidi se entro para o convento, mas enquanto penso no assunto vou ver se convenço as pessoas aqui da biblioteca pelo menos a rebolar no chão. “Vá lá, dá lá uma reboladela. Isso! Vês como rebolas bem? Custa alguma coisa? Agora já podes voltar para o teu jogo de computador.”

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/342733_do-escritorio-para-o-convento)

Há que saber distinguir um terapatife de um gigabiltre

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Chego à conclusão que sofro de inumeracia. Ou inumerismo, se quiserem. Se bem que inumerismo me soa a ilusionismo. “Senhoras e senhores, respeitável público, vamos agora ficar com um fabuloso espectáculo de inumerismo!” Por isso, prefiro a tradução literal do inglês: inumeracia. Também há quem diga analfabetismo matemático. Mas isso é muito longo, primeiro que a pessoa diga ao que vem já foram abatidas mais não-sei-quantas mil árvores no mundo.

 

Mas, dizia eu, depois deste belo intróito em torno da designação do termo, que sofro desta maleita. Basta-me ler uma notícia de jornal para rapidamente perceber isso. Porque, por mim, o Governo tanto pode construir uma barragem por 3,7 milhões de euros como por 56 mil biliões, que é exactamente a mesma coisa. A partir de 500 mil euros perco qualquer discernimento crítico. A minha visão numérica do mundo fica completamente desfocada. 

 

Estou completamente dependente da bondade de estranhos no que toca a operações milionárias. O que se calhar não é boa ideia. No entanto, se alguém me quiser levar à certa por um cêntimo com aqueles preços irritantes terminados em 99 cêntimos, esqueçam! Porque nessa não caio! E considero essas jigajogas económicas imorais! Mas se me disserem: “Já viste, aquela obra do Estado derrapou em mais de 5 mil milhões de euros! Não é incrível?”, eu tento fazer o ar mais indignado que consigo e digo: “Sim, isso parece-me... bastante dinheiro! Não se faz!” Mas falha-me a convicção. Porque não tenho capacidade de medir a minha indignação. Acho que devia haver a disciplina “Milhões” na escola, porque assim talvez não olhasse para estes números astronómicos como boi para palácio.

 

Também não percebo porque ainda não inventaram uma medida comparativa para o dinheiro, como os campos de futebol para a área. É claro que continuo sem fazer ideia do que sejam 1000 campos de futebol de área ardida, mas sempre dá para perceber o enorme desperdício desportivo que vai para aí; a quantidade de campos de futebol que se podiam ter feito e não se fizeram. Para que é que esta gente quer tanta mata? Se calhar as pessoas que fazem incêndios só queriam abrir um espacinho para fazer o seu campo de futebol e depois a coisa descontrolou-se ligeiramente. Afinal, quem faz um churrasco, faz uma futebolada.

 

Se eu algum dia desviar dinheiro, faço questão que seja por muitos e muitos milhões. Ou mesmo triliões, ziliões! Porque, de qualquer maneira, as pessoas não percebem a dimensão da roubalheira. Hão-de sempre dizer “O que este tipo fez é uma roubalheira!” Não há sequer a megarroubalheira ou a gigarroubalheira. Nem sequer se adapta a linguagem a estes tempos de escala milionária.

 

A única expressão superlativada que ouço no jargão económico é “megafraude fiscal”, que nos ajuda a perceber que estamos perante uma roubalheira na ordem dos milhões de euros. Afinal de contas, há que saber distinguir entre os vários patifes. Acho que se deviam adoptar de vez os prefixos do Sistema Internacional de Unidades (SI), porque é preciso perceber que um terapatife, por exemplo, é muito pior que um gigabiltre, são três zeros a mais, é outra ordem de grandeza de malandragem. E os adjectivos e substantivos tinham obrigação de acompanhar estas diferenças. Isso ajuda-nos a situar os problemas.

 

Possivelmente, uma parte da falta de capacidade crítica generalizada para números grandes pode dever-se aos adjectivos e substantivos, que não estão adaptados aos tempos macroeconómicos de hoje. Já foram inventados há muitos anos, num tempo em que a dívida externa era para aí de “dois pintores” ou de “doze contos”, no máximo, e não foram devidamente actualizados. Se calhar deviam estar indexados à inflação. Devia ouvir-se nas notícias: “A qualificação de adjectivos e substantivos sofrerá este ano um agravamento de 0,3%, em linha com a taxa de inflação.”

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/342165_ha-que-saber-distinguir-um-terapatife-de-um-gigabiltre)

O apocalipse do espermatozóide

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Por vezes, estou calmamente sentado a ler o jornal e lá vem alguém simpaticamente relembrar-me que estou a perder espermatozóides aos milhões. Os títulos das notícias são qualquer coisa como “Homens sedentários perdem cerca de metade dos espermatozóides”, ou “Contagem de espermatozóides diminui um terço em 20 anos”, ou mesmo “Espermatozóides em vias de extinção?” Até parece que estamos perante o apocalipse do espermatozóide.

 

Quero agradecer desde já aos jornalistas que, com grande desvelo, me informam sobre as últimas na área do esperma. Mas tenho de confessar que não sinto uma necessidade premente de saber como vai o mercado bolsista do espermatozóide: se está a subir, se está a descer... E mesmo que se verifique o dito crash espermatozóide, quer-me parecer, pelo que vou percebendo, que ainda não será um drama de gigantescas proporções. Senão por esta altura já havia anúncios publicitários com o slogan: “Coma não-sei-o-quê. Porque o seu esperma merece.”

 

Acho que não vou desatar a fazer exercício físico de hoje para amanhã por pensar: “Estou a precisar urgentemente de produzir espermatozóides.” No entanto, não se preocupem, caros jornalistas, que já estou bastante sensibilizado para a causa do espermatozóide. E para as múltiplas razões do seu declínio. Desde o problema do sedentarismo às radiações do telemóvel, passando pelos pesticidas na maçã ou no alho-porro. De tal maneira, que às vezes quase tenho medo de me sentar no sofá, a comer fruta, com o telemóvel no bolso, porque sinto que estou a exterminar espermatozóides às pazadas.

 

Graças aos vossos encantadores escritos já estou inclusive desperto para o problema da poluição atmosférica que, segundo um artigo que li, nos devia fazer pensar duas vezes antes de mudarmos do campo para a cidade, dado o impacto dos maus ares no espermatocoiso. Quem sabe se no futuro não veremos alguém a dizer: “Ofereceram-me um excelente emprego em Lisboa, mas tenho de pensar muito bem, porque vou perder muitos espermatozóides.”

 

Tudo parece provocar a diminuição do espermatozóide, possivelmente até brincar com Legos. O meu grande receio é que, se insistirem muito nessas notícias, eu não consiga sentar-me a trabalhar sem pensar: “Quantos espermatozóides matarei hoje?” E que comece a desenvolver uma preocupação obsessiva que me transforme numa espécie de Coelho da Alice, sempre a repetir: “Estou a perder espermatozóides! Estou a perder espermatozóides! Estou a perder espermatozóides!” Ainda vou parar ao consultório do psicoterapeuta para tentar lidar com os meus sentimentos de culpa em relação ao esperma.

 

Por isso, é a bem da minha sanidade mental que vos dirijo um apelo. Se por acaso vos ocorrer candidamente “Deixa-me cá escrever uma notícia sobre o ocaso do espermatozóide!”, pensem que não é bem um tema ligeiro, algo que dispõe bem, é uma notícia de terror. Devia aliás estar nessa secção, se ela existisse. Talvez seja a oportunidade de formarem o caderno “Terror” ao lado da “Política” e da “Economia”. E depois talvez possamos discutir civilizadamente as notícias desta secção: “Já leste o caderno de Terror? Traz uma peça muito interessante sobre a influência dos pesticidas da abóbora-porqueira na redução de espermatozóides.”

 

Na impossibilidade de criar tal caderno, preferia que só me avisassem sobre o declínio em questão quando for considerado comprovadamente catastrófico pelos mais reputados cientistas do esperma. Quando o pobre do espermatozóide já estiver oficialmente com o estatuto de “ameaçado”, como o panda-gigante ou o rinoceronte de Java. Até lá, não levem a mal, mas acho que prefiro saber os resultados da 3ª divisão de futsal série Açores.

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/341681_o-apocalipse-do-espermatozoide)

Deus devia ser a revista TeleNovelas

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Há quem diga que a morte é uma chatice e eu concordo. E é uma chatice porque deixamos de estar com as pessoas de quem gostamos e blá, blá, blá, mas sobretudo porque nunca saberemos o que se vai passar a seguir neste mundo. Irrita-me pensar que andei aqui literalmente a vida toda a inteirar-me de coisas, para depois não ver respondidas umas quantas questões que me intrigam. Será que algum dia vão inventar um pão de forma decente?  O que matou afinal os dinossauros, um meteorito ou problemas de crescimento? E onde foi parar aquela caneta de que eu gostava tanto, atrás do sofá?

 

Se morrer, nunca saberei. Acho que só por isso já se justificava existir um Céu, um Inferno ou uma treta qualquer; um pardieiro na estratosfera, não interessa. Em que pudesse fazer todas as perguntas a Deus que me apetecesse. O Deus ideal para mim é a revista TeleNovelas da eternidade: sabe tudo o que se vai passar nos próximos episódios. “Senhor, diz-me, no ano 10.000 ainda vai existir pasta medicinal Couto?” “Sim.” “Eu sabia.”

 

Em alternativa, Deus também pode ser o “Sabichão”, do jogo da Majora. Sim, porque eu sou uma pessoa magnânima e dou alternativas a Deus. Há quem imagine o Todo-Poderoso – tal como o nome indica –, como um ser imponente, eu imagino-o com uma vara de metal e fato palerma, a rodar num espelho magnético. Já que Ele se diz omnisciente, então que o prove. Nem que seja a rodopiar feito parvo até ao fim dos tempos.

 

E se o Céu for assim, com todas as respostas ao nosso alcance, a extrema-unção está a ser mal aplicada. Porque o senhor padre podia oferecer outro alívio à pessoa moribunda dizendo: “Saiba tudo já a seguir a um curto intervalo!” É sabido como as pessoas não resistem a ouvir as últimas. Senão não éramos constantemente bombardeados de notícias por todos os lados: pela televisão, pela Internet, pelo nariz, pela boca, pelos poros dos sovacos.

 

Uma coisa é certa, isto de a pessoa se desligar completamente do mundo é de uma certa dureza. Deve ser por isso que alguns optam pela estratégia da amargura no fim da vida, que é para romperem mais facilmente laços. Mal vêem a notícia “greve dos lixeiros”, disparam “Eu não disse? Este mundo é um esterco! Não estou cá a fazer nada!”

 

Eu sou da opinião que todas as pessoas deviam morrer numa espécie de fim de capítulo, que desse um fim digno à sua história de vida. Para quem sofreu uma vida inteira com a Cortina de Ferro, por exemplo, a queda do Muro de Berlim deve ter sido um belo fim de história. Digno de se pensar: “Agora já posso morrer.” Ou então quando acabaram com a moda de usar Crocs em todo o lado.

 

Devia haver um jornal forjado, que tivesse estampada na manchete a notícia que as pessoas querem ouvir na hora da sua morte, tendo em conta aquilo por que passaram ou por que lutaram: “Olha, pai, Olivença é nossa! Diz aqui no DN!” Senão teremos de continuar a morrer em dias altamente estimulantes, como: “Revelações de Machete provocam tensão entre ministros.”

(http://lifestyle.publico.pt/vidaemgrandeestilo/341381_deus-devia-ser-a-revista-telenovelas)

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